terça-feira, 29 de dezembro de 2009

de volta a Obra!!!


Estive um tanto ausente.
Depois que cheguei ao fim da residência em Itamaracá segui adiante com minhas andanças. São Paulo, Belo Horizonte, Rio e agora Barcelona.

Estive três meses em BH ( também em residência) desenvolvendo um projeto de arte e tecnologia junto ao Marginália+Lab, laboratório de criação colaborativa em arte e tencologia. Neste período, me dideiquei a criar performances que tivessem como "suporte" o corpo e como extensão desse corpo a tecnologia. Um projeto bem diferente do que foi Obra de Terreiro, porém, para mim, não menos interessante...

Enquanto residia em BH reencontrei na capital mineira, a cultura popular dos Reisados: moçambique, congada, vilão... As canções desse povo embalou minha infância agora voltou a estar diante de meus olhos com suas cores e a música alta.
Numa ocasião fui a uma festa de chegada de Reisado na cidade de Contagem, grande BH. Logo quando cheguei, na parede dos banheiros públicos construídos para a festa dos Arturos, estava escrito:

Oh velho Deus dos homens! Deixa-me ser tambor, só tambor, só tambor...


Salve os Arturos!!!
Os Arturos são uma comunidade quilombola que resiste na cidade de Contagem. Fazem, todos os anos, uma bela festa de Reisado lá mesmo pelas ruazinhas do bairro onde recebem, também, grupos vindos de outras cidades e arredores.

Pois bem, dessas minhas andanças, surgiu uma reflexão sobre o desequilíbrio do corpo na cultura popular (reflexão essa, discutida por pesquisadores brasileiros: músicos, bailarinos e teóricos). Depois de dançar passando a sola dos meus pés no chão, tirando som do atrito entre o chão e o meu corpo, foram tantas as eminências de quedas... Aprender a cair foi aprender a dançar. Logo, impossível não pensar sobre a importância do equilíbrio e do desequilíbrio nessas danças.

Diferente da dança clássica, os bailarinos da cultura popular estabelecem uma relação muita forte com a terra, estão conectados com o chão onde pisam. Talvez porque a maioria dessas festas são a celebração da Terra, são ritos de fertilidade e espiritualidade e a matriz da crença dessa gente é a África onde os deuses habitam a terra e não os céus.

No momento estou criando uma oficina de desequilíbrio. Ando atenta ao ato de desequilibrar-se.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Nossa Obra de Terreiro


Terminamos a oficina com a apresentação de nossa Opereta. Após muita obra nosso terreiro se encantou. Era saia rodando pra todo lado, muito sorriso, muito brilho, muita beleza, força e doçura. Biu e Dulce estavam vestidas como rainhas e Lia de Itamaracá não ficou para trás! Mas nada se comparava as meninas , elas estavam incríveis, muitas fitas coloridas, saias floridas, baton vermelho e alegria no ar!

A força da roda é indiscutível: gritos de guerra, sedução, jogo, dança, coro: olha o côco do trabalhador! Roda Mundo, rodas gigantes, peneiras, redes, alto da Sé, vadiação, ciranda de Lia, capoeira, chuva, sol... Olha as ondas do mar!

Ô vira, ô gira e torna a virar e torna a girar essas voltas boas de se dar, essas voltas que o mundo dá.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Apresentação Final da Residência Artística> Ponto de Cultura de Lia de Itamaracá.


Sábado: Obra de Terreiro!

por Xyomara

Eu e Mestre Luís Paixão encerramos, neste sábado próximo, nossa Residência Artística no Ponto de Cultura de Lia de Itamaracá. O encerramento contará com a apresentação de um trabalho feito por meio da interação das duas oficinas oferecidas nos últimos três meses.

Iniciamos a noite com Obra de Terreiro, uma opereta com a família do Mestre Baracho: Dulce, Biu, suas filhas e netas. Elas têm entre 3 e 65 anos de idade e cantam cirandas e cocôs autorais e de compositores da região. As musicas são coreografadas e falam sobre os temas: tempo, trabalho, universo feminino e a roda. Faz parte da opereta de narrativa não linear, um jogo da improvisação.

Durante a apresentação faremos uma homenagem ao Mestre Baracho por meio da projeção de fotografias de CaFi que acabam de ser expostas no Instituto Cultural Banco Real no Recife.

A opereta Obra de Terreiro termina sua apresentação abrindo os caminhos para a entrada de Mestre Luís Paixão e sua rabeca. Cantamos com ele uma canção de chegada e em seguida abrimos roda para o mergulhão, neste momento todos os participantes das duas oficinas estarão brincando juntos e Seu Luís dá continuidade a apresentação de Cavalo Marinho. O homenageado da vez será Mestre Martelo, o mais antigo e famoso Mateus do Cavalo Marinho que fará 73 anos neste dia.

Sábado, dia 30 de maio de 2009, à partir das 20 horas no Centro Cultural Estrela de Lia, na praia de Jaguaribe na Ilha de Itamaracá. O espaço é aberto e a entrada é gratuita. Venham conferir!!!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Marco Zero

Baracho
(1907 -1988)

Neste ultimo domingo fomos ensaiar no Marco Zero.

O Marco Zero, digo o monumento em si, é uma espécie de rosa do ventos bem colorida que fica no chão. De lá podemos avistar o parque de Brennand em cima dos arrecifes, a casa de banhos e do outro lado bem perto dos casarios antigos da cidade, os trilhos dos extintos bondes.

Num desses casarios fica o Instituto Cultural Banco Real onde estão expostas as fotos de Cafi: o céu de pernambuco na terra dos maracatus. Cafi fotografou durante algumas décadas os maracatus do interior de pernambuco, a chamada zona da mata pernambucana. Um dos personagens principais dessa exposição é Mestre Baracho. Ele foi o responsável por um movimento de reconhecimento e valorização da cultura popular pelos centros urbanos e pelo governo, antes mesmo de Mestre Salustiano e de Chico Science. Inclusive, Cafi me contou que o bastão (simbólico o não) usado por Baracho no Maracatu foi dado a Salustiano que por sua vez o entregou a Science.

Pois bem, no domingo a família Baracho foi até o Instituto para conferir a exposição de Cafi. Foi emocionante vê-las perante as fotografias, Dulce e Biu, filhas do mestre, vendo uma das fotografias, reconheceram o pai até pelas costas: aquele ali de costas com o ganzá debaixo do braço é ele! E Biu me cantou uma canção que falava sobre isso, segundo ela, Baracho vivia a caminhar com seu ganzá debaixo do braço... Foi emocionante!

Antes de ver a exposição, nós ensaiamos em pleno Marco Zero. Foi importante trabalhar a concentração (estávamos num dos pontos turísticos de Recife) e com presença de público. Nosso espetáculo é estremamente interativo, nossa roda está onde o público está, será inevitável dar a mão a um estranho e convidá-lo a girar.

Uma Visita


Neste ultimo sábado tivemos a visita do Ministério da Cultura. Karla, a representante do MINC, veio conhecer o trabalho de Residência Artística que está sendo realizado no ponto de Cultura de Lia de iIamaracá. Foi uma visita interessante, ouvir Karla em relação ao projeto escrito foi especial, nem sempre temos um retorno em relação ao que escrevemos, quem escreve projetos sabe disso. Depois, ouví-la em relação ao trabalho efetivo foi ainda mais especial.

Tenho pra mim que os projetos são expressões um tanto romanticas do nosso desejo, é justo que seja e a prática vem a nos desafiar e a nos transformar também.

Houveram muitas mudanças no decorrer do processo e hoje tenho a segurança de afirmar que essas mudanças somaram muito ao projeto original. Eu havia me programado para trabalhar tecnicas do teatro contemporâneo e foi o que fiz, mas em escalas bem mais sutis. O fato de ter comigo toda a família de Mestre Baracho foi uma bela e desafiadora surpresa, isso siganificava que eu haveria de reorganizar meu cronograma em função de uma demanda diferente: eu possuia a partir de então, alunos que tinham de 3 a 70 anos e a maioria deles tinham a música ritmica como linguagem artística mais acessível. A maioria nunca havia assistido a um espetáculo de teatro ou dança.

Eu deveria então me comunicar com elas por meio dessa linguagem se quisesse ter algum sucesso nessa comunicação, afinal, a confiança delas deveria ser conquistada. Trabalhamos a linguagem básica corporal: equilibrio, transferência de peso, ocupação e equilíbrio espacial, intensão, gesto... Mas tudo isso por meio das canções populares.

Hoje temos uma espécie de opereta, ou o esboço de uma. Estruturamos uma narrativa não linear para CANTAR em coro ou não, os temas que nos interessam: a roda, o tempo, o direito feminino, o trabalho, a brincadeira: Obras de Terreiros das nossas casas, de nossos quintais, locais de trabalho, convivência e brincadeira, lugar do lúdico, lugar da criação.

O verbo criar ganhou prioridade, lugar de destaque durante a oficina. Percebi que apesar de todo o talento delas, havia uma certa dificuldade em relação a CRIAR pois não se sentiam á vontade, elas sempre estavam ao meu dispor para executar minhas supostas ordens. Ordens essas que poucas vezes existiram e que muitas vezes criou um vazio no processo. Veja bem, se existe num espeço específico pessoas dispostas a obedecerem a uma outra que não dá ordens, o que fica é o vazio. Esse vazio foi importante para deflagrar a necessidade de ocupá-lo. E foi assim que aconteceu, aos poucos, elas iam por necessidade lançando idéias, sugestões para ocupar o vazio incômodo. Quando essas sugestões eram lançadas aí sim, idéias minhas iam surgindo, sempre em relação ao que era colocado por elas e assim fomos aprendendo a criar juntas e um diálogo começou a ser estabelecido.

Ruídos, harmonias, silêncios, ritmos, melodias... Sinto que durante muito tempo essas mulheres desenvolveram relações de castração entre si e com os outros e agora é hora de suspendermos isso. Esse terreno circular que pisamos é fertil, nesse nosso Terreiro nascem e morrem coisas a todo instante, aqui o tempo nos serve, ele nos transforma e essa talvez seja nossa principal Obra.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Um ponto vazio, será?

O encontro de domingo aconteceu.

Dulce, Biu, Taciana, Talita, Alice, Sulamita, Janaína, Maria de Fátima, Aniele, Aline, Marcílio e a pequena Juliana.

Toda a família Baracho veio ao nosso penúltimo encontro, remarcado às presas, de última hora, logo após o imprevisto que não permitiu que nosso ensaio de sábado ocorresse normalmente. Estavam todas ainda assustadas com o ocorrido no dia anterior. Um clima de desconfiança e medo pairava no ar e o desconforto foi geral.

Elas moram na cidade de Abreu e Lima e de lá para Itamaracá levam, assim como eu 2 horas de viagem. Até então, o Ponto de Cultura estava arcando com esse transporte, isso fazia parte de um acordo entre eles, elas colaboravam com a programação do Centro Cultural Estrela de Lia. A rotina era assim: elas chegavam as 9h para a minha oficina, as 15h faziam a oficina de Cavalo Marinho de Seu Luís Paixão e à noite cantavam com Lia. No dia seguinte, elas faziam pela manhã uma oficina de percussão e ao meio dia realizam um show com suas cirandas. Assim foi de durante um mês e meio.

Estavam super felizes e radiantes!!! Até que neste sábado o Ponto de Cultura (o ponto de cultura o centro cultural neste caso são a mesma coisa) não enviou o transporte e cancelou a oficina de percussão e o show de domingo alegando que os gastos estavam muito altos: comida, água, transporte... Baixa temporada, pouco movimento no bar... De uma hora para outra elas ficaram sabendo que não poderiam terminar os ensaios de nosso espetáculo e que por conta disso não haveria mais estréia nem comigo e nem com Seu Luíz Paixão.

Eu vim a saber dessa estória no sábado assim que cheguei para o ensaio, assim que vi que não havia ninguém.

Fui chamada para conversar com o responsável pelo ponto de Cultura que alegou que não haveria mais a programação referente a família Baracho por falta de verba. Segundo ele, o Ponto ainda não recebeu a última parcela... Conversa vai, conversa vem... Muitas reclamações das mais diversas origens... Pronto, o impasse: por ele as atividades acabariam ali mesmo, afinal, estávamos há duas semanas do final do projeto, não é mesmo?

NÃO. Definitivamente, não. Eu não poderia desistir de um projeto que dá certo. Não poderia deixar de finalizar um processo de criação onde as pessoas envolvidas aprendem a cada encontro a ter autonomia em relação a sua criação!

Informei ao responsável pelo Ponto de Cultura que meu trabalho continuaria até o final e pedi que ele me permitisse ensaiar naquele domingo no espaço de sempre. Liguei para Dulce e para Bíu e perguntei a elas se tinham disponibilidade e se gostariam de dar procedimento aos nossos ensaios, apesar do ocorrido, prôpus um encontro naquele domingo, agendamos o horário, ligamos para o motorista da kombi, acertei com ele o preço do serviço.

Pois bem, no domingo estávamos todas lá, confesso, um tanto despedaçadas. Nos sentimos bastantes desrespeitadas, tínhamos algo atravessado na garganta. Mas lá estávamos , uma perante a outra, com os olhos cheio de lágrimas, mas firmes e com muitas coisas para ensaiar!

Agradeço ao percussionista Viola pela presença neste domingo tão difícil. Agradeço a Dulce e a Bíu por não terem desistido, confesso, naquele momento esse era o meu único medo.

domingo, 17 de maio de 2009

Um Ponto Vazio

Para a minha surpresa, cheguei ontem no Ponto de Cultura de Lia e ele estava vazio. Vazio de gente, de sorrisos, de abraços, de olhares... Neste sábado, diferente dos outros não havia ninguém a minha espera. A família Baracho, assim como eu acordou cedo, se preparou, mas diferente de mim, não conseguiu chegar lá. O transporte oferecido a ela pelo Ponto de Cultura não a trouxe e eu me deparei com o vazio.

O problema prático alegado que pode vir a ser a falta de dinheiro do ponto de cultura para o transporte foi resolvido logo após uma conversa sobre valores onde eu me responsabilizei em arcá-los, mas o maior dos problemas não poderá ser resolvido assim, infelizmente.

Hoje é um novo dia, um domingo de sol. Estou a caminho de Itamaracá na tentativa de realizar o encontro que não fizemos ontem e quando chegar espero encontrar novamente, sem maiores abalos, o sorriso que me move.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O Pião entrou na Roda!


o pião entrou na roda. roda pião, banbeia pião...

Rafaela e Léo são irmãos. Eles são duas das crianças que andam pelas redondezas do Ponto de Cultura observando os nossos encontros, mas que nunca participaram. No ultimo sábado percebi que, num cantinho perto da arena, os dois estavam cantarolando uma das canções que ensaiamos. Cheguei pertinho bem devagar e sem ser percebida parei para ouví-los e fotografá-los. Foi uma questão de segundos, eles logo me perceberam e já posaram para a foto. Então, sentei do lado deles pra bater um papo e Léo me contou que eles gostaram da cantiga que cantarolavam, tanto que ensaiaram em casa a coreografia. Rafaela abriu um sorriso e quando ia me dizendo algo, Léo interrompeu: a Lela não sabe direito, tem que aprender! (referindo-se a sua irmã) Rafaela olhou o irmão de cara feia e disse: É mentira eu sei tudinho, quer ver? Foi aí que eu descobri que os dois sabiam a música e a coreografia interiras só de ouvir e observar nossos ensaios.

Lela e Léo estão convidados a participar da oficina com a gente. Me garantiram que chegariam no próximo sábado as 9 da manhã. Eu os aguardo de braços abertos, afinal, essas crianças se deixaram fisgar pela comoção, pela brincadeira, pelo roda pião!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ciranda Nova


Lia de Itamaracá ensaia a canção Ciranda Nova

terça-feira, 5 de maio de 2009

Ensaio Obra de Terreiro



Janaína

Obra!

Deixo aqui um trecho do relatório escrito por mim para a Funarte referente ao trabalho desenvolvido no mês de abril de 2009 no Ponto de Cultura de Lia de Itamaracá. Um relato da minha relação com minhas alunas: filhas, netas e bisnetas de Baracho.

Meu trabalho muitas vezes é silêncioso, exige concentração e superação. É Ouvir, sugerir possibilidades que estimulam a criação. Criar com elas e vê-las criar é meu obejtivo e o que venho fazendo nesses dois meses é tentar lhes oferecer instrumentos novos e condições físicas e criativas para que possam fazer isso.

Durante nosso último encontro, elas se mostraram mais seguras. se sentiram mais autônomas. Chegamos agora em um momento muito fértil do projeto, estamos trabalhando de igual para igual.

domingo, 19 de abril de 2009

os meninos de Jaguaribe (um parêntese anunciado)

Há muitas crianças na praia de Jaguaribe. Algumas tantas passam o dia inteiro pelas ruas sem a presença de um adulto e muitas delas ficam nos arredores do ponto de cultura de Lia. A beleza do espaço deve atraí-las.Muitas vezes me surpreendo com um sorisso, um carinho, uma proposta de brincadeira. São muitas, meninas e meninos filhos da gente da Ilha ou de veranistas.

Neste sábado a oficina foi silenciosamente acompanhada de longe por um menino. Seu nome é Kevin, ele tem 9 anos de idade e desde os 7 joga pião. Eu tenho um pião que comprei a 50 centavos na feira de trocas de Peixinhos e esses dias o levei para oficina. Quando kevin viu o meu pião logo se aproximou para brincar e assim que lhe foi permitido (o pião virou a sensação dos rapazes que trabalham no bar do Ponto de cultura) ele pegou o pião e começou a rodar!

Eu fui lá aprender com ele, já havia me
esquecido como fazê-lo rodar, faz tanto tempo... Meu avô me fazia os piões e me ensinou a ouví-los (os piões cantam, sabia?)e nessa época eu ainda sabia pegá-los nas mãos como Kevin. Neste dia, aprendi com ele o detalhe do palito de pirulito amarrado na ponta da corda do pião, genial!

Bem, nossa brincadeira foi interrompida pelo horário do almoço. A tarde na oficina de Seu Luíz lá estava kevin de novo, observando, desta vez um pouco mais perto. Chamei-o para brincar o cavalo marinho com a gente, mas ele não quis. Reclamou que havia me procurado mais cedo e não tinha me achado. No intervalo entre uma oficina e outra eu fui dar uma volta e ele se perdeu de mim.

O meu amigo do pião só arredou o pé quando eu fui embora. Ia saindo no carro quando o vi sumindo na esquina da rua onde, segundo ele, fica sua casa.

Kevin é um dos tantos meninos de Jaguaribe que estão crescendo sozinhos, sem a atenção que merecem ter. São inteligentes e saudáveis como qualquer outra criança, mas talvez nunca terão a oportunidade de escolher o que de fato querem ser quando crescerem. A vida para muitas dessas crianças impõe-se de tal maneira que os deixa sem escolha.

kevin é muito tímido mas é bastante esperto, sensível e doce. Não quer fazer minha oficina e nem a do seu Luíz. Será que oficina kevin gostaria de fazer?

Foi a primeira vez que o vi por aqui e eu não tive coragem de perguntar para ele o que ele quer ser. Mas também a mim cabia apenas lhe dar a atenção sincera que lhe dei, afinal um menino de 9 anos que roda piões com tanta habilidade é por demais precioso e belo.

Um grande talento tem Kevin na altura de seus 9 anos de idade: rodar piões e sorrir!




quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Pião e a Cumieira

No último encontro ensaiamos o início do espetáculo. Dulce e Biu, primeiro uma e depois a outra, cantam.

o pião entrou na roda
o pião. o pião entrou na roda.o pião
roda pião, bambeia pião
roda pião
bambeia
pião


Depois é a vez das meninas (sua filhas e netas). Pergunta, resposta, juntas em coro.

roda pião, bambeia
pião. roda pião
bambeia
pião

a

cu
mi
ei
ra
virou nosso referêncial
penso que de fato tudo pode girar em torno dela
ela que sustenta e ergue aponta para cima ao mesmo tempo que nos faz firmes no chão.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ajoelhando

Toda noite, quando a roda de ciranda lá vai terminando, Lia de Itamaracá puxa um côco.

Ajoelha, ajoelha!
Ajoelha no colo de Iaiá!

Ajoelha, minha gente, ajoelha!
Ajoelha no colo de Iaiá!

Assim ela vai citando o nome de cada um que estive com ela naquela noite. Músicos, o pessoal que trabalha no bar, seus amigos, parentes e ainda aqueles que se destacaram em algum momento durante a festa e ganharam dela um apelido. Já ouvi vários: pirráia, caboclo, neguinho...

Neste último sábado ouvi pela primeira vez ela cantar meu nome.Jamais esperei ouvir meu nome entre as letras da despedida, foi uma surpresa, tanto que me emocionei.

Ouvir meu nome cantado por Lia é de certa maneira me ver inserida no universo dela. Se engana quem acha que é simples. Lia é extremamente reservada, fala pouco, é quieta. Mas quando se à vontade conta suas estórias, cantarola suas canções, solta suas ironias e sorri.

Essa grande mulher é autêntica. Canta o que gosta e como gosta, não perde tempo em aprender o que não lhe diz respeito e nem aquilo que não lhe toca.

Um dia desses lhe mostrei um samba.Perguntei sobre o compositor e ela não o conhecia. Lhe expliquei quem era o moço e pedi para que ouvisse a canção e ela silenciosamente atenta, ouviu no meu mp3, O mundo é um moinho de Cartola.

No final chamou Dulce e Biu e comentou: "Ouvi, parece um balada, um bolero..."

Dulce e Biu sorriam dividindo o fone.
"É aquele, como é mesmo o nome? Cartola!" dizia Dulce. "Eu conheço! É linda..." suspirava Biu.

Eu perguntei a ela se cantaria essa música no espetáculo que estamos ensaiando.

Ela docemente me respondeu:
"Não...isso aí não entra na minha cabeça, não. É arrastado demais!"

Eu insisti: Lia, essa música com a sua voz ficaria ainda mais bonita!

Ela: Vocês me botam em cada emboscada... Só por causa da minha voz?

Pois então.
Ajoelha Cinthia, ajoelha!
Ajoelha no colo de Iaiá!

terça-feira, 31 de março de 2009

Seu Luiz e Eu mais uma vez.

É muito bom poder dividir o espaço do Ponto de cultura de Lia com Seu Luíz Paixão. É um prazer ter sempre sua alegria e sua cumplicidade.
Acho engraçado quando ouço ele dizer um tanto bravo:


"Daqui não sei ninguém sem aprender!"

Mas compreendo sua exigência. Estamos depositando muito de nosso tempo e de nossa energia nesses projetos. Eu estou a meses por aqui em funsão disso e ele mobiliza muita gente entre músicos, galantes, mestres pra levá-los a cada sábado ao encontro dos alunos.

Esses dias paramos os dois pra conversar num cantinho e meio que cochichando trocamos algumas confidências sobre a evolução das turmas. Ele se mostrava preocupado e é certo, nós dois dividimos a mesma preocupação: nossas turmas são completamente heterogêneas.

Durante as inscrições, exigimos uma ou outra condição ou limite de idade, mas logo vimos que não adiantaria muito, por conta da falta de constancia de presença de alunos e da maneira como cada um apresenta seu interesse.

As diferenças são tantas e o que leva cada um a estar ali conosco são motivos tão distintos...

Não é fácil!!! a troca diária tem sido intensa e rica, sem dúvidas, nunca havia experimentado nada igual, mas os desafios são muitos.

Eu e Seu Luiz vamos fazer de tudo para que de fato, ninguém saia de lá sem aprender, mas isso também depende do interesse de cada um dos alunos.

4º encontro ainda

Bíu
uma das filhas de Baracho

Neste encontro demos início aos estudos dos gestos, os gestos que nos levam a dança.Trabalhamos as qualidades dos movimentos: velocidade, parágem, peso (transferência, inclusive), intensidade, fluxo, forma... Estamos quase lá!

4º Encontro

Dona Maria Madalena
mais conhecida como Lia de Itamaracá


quinta-feira, 26 de março de 2009

Obra de Terreiro no Pernambuco Nação Cultural

http://www.nacaocultural.pe.gov.br/obradeterreiro

Pernambuco Nação cultural é uma rede de comunicação e divulgação da cultura pernambucana na internet idealizada pela Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) e pelo pelo Instituto InterCidadania.

O sítio tem como objetivo "arquivar, armazenar e exibir qualquer conteúdo - vídeo, áudio, imagem ou texto - que tenha relação com a população e o consumo artístico local."

Pois bem, lá estamos e estaremos relatando, divulgando, inventando e reinventando as ações e as impressões do projeto Obra de Terreiro.


ainda no Terceiro Encontro

Caminhar, saltar, rolar e girar...
Espaço, corpo, relação, ritmo, gestual >> construção da dança
Todos podemos dançar!

Terceiro Encontro

Bastão
Um jogo que trabalha o gesto de olhar no olho, a percepção, a transferência e a divisão do peso no corpo, exige atenção, criatividade...

terça-feira, 24 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

O Primeiro Encontro-Obra de Terreiro

Biu e Dulce

No primeiro sábado de oficina vou a Itamaracá pela praia do Sossego e para chegar ao Ponto de Cultura de Lia ,em jaguaribe (onde acontecem as oficinas), preciso atravessar um rio num barco. A maré estava baixa, mas este era o caminho mais curto e seguro.

Assim que cheguei no Centro Cultural de Estrela de Lia, lá estavam, há minha espera filhas e netas de Baracho, ao todo eram 9 entre meninas, moças e mulheres. Baracho foi um compositor de cirandas e é dele a maioria das letras e melodias que já ouvimos por aí. Ele se foi há 20 anos e deixou um legado de canções que suas filhas, netas e bisnetas trazem na ponta da língua.

Suas filhas Dulce e Biu cantam com Lia, suas vozes são inconfundíveis!!!


Pois bem, iniciamos a oficina e eis que Lia de Itamaracá se junta a nós. Foi uma bela surpresa! Bem pertinho da arena central, ela colocou uma cadeira para se sentar (seus joelhos não lhe permitem abusar...) e a todo momento nos surprendia com seus comentários engraçados e com suas observações mais que irônicas.

Lia, Dulce e Biu, juntas são uma diversão! Falam -me de toda a juventude, das rodas de ciranda, de tempos atrás e também do futuro.

É um prazer tê-las comigo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Véspera nº2

Às vésperas do inicio de meus trabalhos com o Ponto de Cultura de Lia, em Itamaracá, tenho comigo uma pergunta que me assola, dentre tantas outras:
____________________________ quem irá ao meu encontro?
Parto daqui rumo a algum horizonte ao qual estarei sempre aberta a aceitar, encarrar e respeitar.


______________ À porta quem virá bater?

______________ Em uma porta aberta se entra
______________ Uma porta fechada um antro

______________ O mundo bate do outro lado de minha porta.

___________________________________Pierre Albert-Birot,
__________________________Lês amusements naturels, p 217.

Véspera

foto: br 116

Vem chegando fevereiro e o que se sonha é um dia interio no seu lar.
Poder cantar, poder calar, poder querer e merecer o doce toque do seu mar...


Recife de ilusão, Pernambuco coração.

Recife de ilusão, Pernambuco coração.


Vens de lá eu sei, fevereiro vai chegar.
Fevereiro vai chegar...
Chora a Liberdade ao ter tua lembrança, ao se cansar de te esperar,
Sorri a Boa Viagem ao ver feliz a tua imagem ao te ver chegar.

Tua tristeza vai embora, com teu choro o meu pesar.
Tua tristeza vai embora e com teu choro o meu pesar.


Tua espera é meu lamento: a felicidade é teu lar!
A felicidade é teu lar...


Mas se já vais embora,
se já passou da hora de te encontrar,
viverás feliz, longe daqui em outro lugar.

E meu fevereiro é teu dezembro mesmo sendo em janeiro, véspera.


Às vezes aqui , mas sempre lá.

Às vezes aqui, mas sempre lá...


Mas se já vais embora,
se já passou da hora de te encontrar,
viverás feliz, longe daqui, em outro lugar.


O meu avô (homem sábio) me disse certa vez: "Todo homem precisa de uma ilusão pra viver." Eu nunca pude me esquecer disso.

O que temos acima é uma canção, Véspera é seu nome e a letra foi escrita por mim a algum tempo. Eu tinha lá os meus 16 anos e sofria com a partida de uma grande amiga que voltava ansiosa a sua terra: Recife. Ela havia passado uma temporada fora de sua terra natal por conta de uma crise financeira que abalou sua família e nesta ocasião nos conhecemos, estávamos as duas recém chegadas numa escola na cidade de Resende-RJ.

Nessa época eu ouvia Chico Science nas rádios e sua música me comovia a ponto de me causar sensações e desejos profundos de mudança, me apontando o movimento, proporcionando um impulso a mais contra minha sensação de estagnação.

Naquela época, há uns 15 anos atrás, eu vivia a inércia de uma comunidade rural abalada pelo agronegócio. Eu não estava no campo e também não estava na cidade, vivia num lugar entre um local e outro, à beira de uma BR, numa paisagem verde rasgada por uma rodovia, a mais movimentada de todo o país a BR 116, que liga Rio a São Paulo, que leva até certo ponto Rio de Janeiro a Minas Gerais (Estado onde nasci), mas a mim, me deixava exatamente onde eu estava, não me ligava e nem me levava a lugar algum.

Eu acredito que tenha sido aí que nasceu o meu encanto por esse lugar que minha amiga Ivana amava tanto. Um lugar capaz de produzir tanta poética deve ser um lugar de magia, ou será apenas o lugar que chamamos de nosso? Bem, para quem não tinha, naquele momento, lugar algum como referência, para quem, dia e noite via a sua frente, tantos carros passarem rapidamente de um ponto ao outro indo sabe-se lá para onde, neste caso, Recife poderia ser, de fato, um recife de ilusões ...

Mas não é.

terça-feira, 3 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

O Caboclo de Lança

O Reino da Rabeca Encantada

Estive fora uns dias, vou lhes contar como foi.

Lá estava eu andando pelas ruas do Recife antigo entretida com os belos enfeites do carnaval quando, ao entrar na rua da Moeda, vi passar correndo por mim um Caboclo de Lança. Era uma criatura fascinate, de longe se ouvia o tintilar de seu surão e tanta lantejoula ofuscava meus olhos! Fiquei completamente hipnotizada tamanho era o borão de cores. O segui. O Caboclo ia com sua lança quebrando as esquinas e atravessando becos até que entrou em um ônibus que foi parar em Tabajara, uma terra Olindense, aparentemente, não muito distante.

O Caboclo desceu do ônibus e eu continuei a segui-lo até que chegamos em um Reino chamado Casa da Rabeca. Nesse Reino todo ano acontece um encontro de Maracatus e nesse encontro pode-se ver todos os Caboclos de lança do mundo! É assim que começa o carnaval. Vem chegando noite e dia Maracatus de Baque Solto, Maracatus de Baque Virado, Reis, Rainhas, Porta bandeiras, Vassalos, Damas do passo, Baianas e os Caboclos de Pena (que não usam lança e sim machado) também chamados Tuxau ou Arreimá. Todos vêem de outras tantas terras também, aparentemente, não muito distantes... Quando os Maracatus de todo o mundo se encontravam o som vindo do Reino parece o som que vem do trovão!

De repente o Caboclo que estava parado de frente para a arena onde se fazia a chegada de todos os Maracatus, saiu correndo de novo, agora em direção a um lugar que mais tarde eu fui saber que era o castelo da Rainha. Lá, no castelo da Rainha, eram costuradas todas as roupas do Maracatu. Cada Caboclo bordava a sua gola e cada Baiana bordava o seu vestido, cada Dama costurava suas pedras... O Caboclo que eu perceguia estava com sua gola meio solta e precisava de uns ajustes. A melhor costureira do mundo, vivia alí, naquela casa. O Caboclo entrou numa fila imensa que sumia por detrás das montanhas... Nunca vi tanto ajuste pra fazer!!! Nesse meio tempo pude observar com que facilidade e rapidez todas aquelas pessoas, homens e mulheres, bordavam suas roupas. Eram enormes bordados em harmonia coloridos.

Assim que o Caboclo teve sua gola ajustada saiu novamente na correria de sempre e eu, já estava me virando para segui-lo quando fui pega de surpresa no portão. Lá estava ela, a própria, a Rainha do Reino da Casa da Rabeca!!! Ela era tão bonita e tão jovem que mal pude acreditar!

A Rainha me olhou meio de eslaio e depois me examinou de cima em baixo. Aí, com firmeza olhou nos meus olhos e me perguntou:
_Quer brincar comigo o carnaval?

Eu logo fiz com a cabeça que sim (jamais poderia decepcioná-la!). Então ela voltou-se para a melhor costureira do mundo e disse:
_Minha mãe, temos mais uma Baiana, tu tens uma roupa para ela?

Pronto.
Foi assim que durante o carnaval desse ano eu me tornei uma Baiana do Maracatu Piaba de Ouro, brincadeira preferida da Rainha Laíse.

A Corte todos os dias acordava cedo, tomava seu café na sede do Reino e seguia, divivida em três ônibus e um caminhão, para outras terras. Íamos apresentar aos povos de todos os Reinos nossa majestade! O grande cortejo ocupava as ruas e parava os blocos do carnaval, todos ficavam deslumbrados, a gente toda ia para as suas janelas para aplaudir o cortejo que passava, as pessoas saíam das calçadas dando passagem, as crianças corriam, as moças sorriam, as senhoras choravam.

Estive fora uns dias. Eu estive nas terras de uma jovem Rainha, lá descobri o seu reinado de carnaval e experimentei uma brincadeira diferente.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ciranda há! beira mar...

Praia de jaguaribe, Itamaracá. Sábado, 07 de fevereiro de 2009

Neste dia a ciranda começou mais cedo, havia uma filmagem no centro cultural, lá estava uma equipe com câmera, grua, microfone e tudo mais. O filme era sobre os Patrimônios Vivos de Pernambuco e Lia no final do ano passado virou um deles.

Um patrimônio vivo recebe do governo do Estado uma mesada mensal, em torno de R$ 700,00. Isto porque, os Patrimônios Vivos (apesar de desenvolverem intensamente suas atividades como artistas, artesãos ou mestres), não possuem uma renda suficiente para o seu próprio sustento.

Até então, Lia foi merendeira da escola estadual em que trabalhou a vida inteira. Com o salário de merendeira levou sua vida de rainha da ciranda, no entanto, a quantia que ganha como cantora não chega a ser considerável, embora viaje o ano inteiro com sua banda, incluve fazendo shows fora do país. Pois bem, lá estavam filmando Lia, lá estavam construindo para ela um "Universo de Patrimônio Vivo" que não era exatamente o universo dela...

Lia pra quem não sabe não pertence a nenhum Terreiro de Candomblé e a nenhuma Nação de Matriz Africana, seja ela do Maracatu ou do Afoxé, não é essa a sua crença. Ela respeita, canta e cita Yemanjá sempre que se lembra dela, mas do Terreiro ela não é e nem precisa ser.

Sua beleza e imponência africana é de arrepiar e encantar qualquer um e isso basta. Acontrece com o público, com seus músicos, com quem quer que se atente, nem que seja por alguns instantes, a sua voz, a sua forte presença. Mas lá estava Lia, a pedido da equipe do filme, batendo a cabeça pro Tambor de um de seus músicos, o Baba Claudinho do Afoxé Alafin Oyé, na presença de uma Mãe de Santo e de uma baiana que assistiam sentadas a roda de ciranda.

Gentilmente eles cederam ao pedido, gentilmente colaboraram para a construção de um "Universo de Patrimônio Vivo" que mais adiante irá se contradizer com suas próprias histórias de vida.

Há de ser com delicadeza que cheguemos nos espaços que não conhecemos, e então, nossas ficções, nossas idéias dele, terão de ficar cada uma em seu devido lugar para dar espaço a inevitável realidade que sem dúvida será mais bela e infinitamente mais interessante ( e menos obvia) que a própria idéia dela. Lia é o que é antes de virar Patrimômio e não é á tôa, basta abrir os olhos e ver! Gentileza sempre haverá!

Axé!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Rodas, Espetáculo e Oficinas


Em Março eu e Seu Luíz Paixão iniciaremos nossa Residência Artística no Ponto de Cultura de Lia de Itamaracá. Daremos Oficinas todos os sábados e, a quem possa interessar, as inscrições estão abertas e as atividades serão gratuitas!

Eu ofereço nas oficinas um trabalho inspirado numa técnica contemporânea chamada Viewpoints e traço um diálogo com a dinâmica das rodas de Cirandas. Esse trabalho pretende culminar na criação de um espetáculo ao final da Residência e quem está na oficina participa!

O Seu Luíz oferece em sua oficina o contato com a brincadeira do Cavalo Marinho. Os participantes poderão aprender sobre o Cavalo Marinho além de dançar e tocar.

Tanto a minha Oficina quanto a de Seu Luíz serão oferecidas no Centro Cultural Estrela de Lia, uma linda arena à beira mar na praia de jaguaribe, na Ilha de Itamaracá. Nos sábados, após as Oficinas, tem também a Ciranda de Lia à apartir das 21h. Não percam!

Informações:
81- 97 39 28 15 fale comigo
81- 91 18 64 96 fale com Seu Luíz

sábado, 31 de janeiro de 2009

Seu Luiz e Eu


Seu Luíz Paixão é mestre rabequeiro. Ele vive a tocar nos bancos do Cavalo Marinho, brincadeira popular de Pernambuco. As Sambadas por aqui acontecem no mês de dezembro, mas o Cavalo Marinho pode ser brincado o ano inteiro. Seu Luíz também é um Artista Residente e estará ocupando comigo o Centro Cultural de Lia de Itamaracá.

Seu Luíz é um músico popular e como tantos outros desse país se vê dialogando com o turbilhão de informações que vêem de todos os cantos e chegam até ele sem muita ordem de prioridade e relevância. Ele atento, sábio e sereno parece surfar com sua comprida bermuda vermelha pelo mar contemporâneo das informações: ele curte as ondas, respira a maresia, às vezes enfrenta tempestades e por aqui até encara os tubarões!

Salve seu Luíz! É por paixão que seus dedos (me disseram que ele toca apenas com três, eu ainda não vi...) se desenrolam nas cordas de sua rabeca sempre que o silêncio incomoda e até que as pernas do Mateus e do Bastião se aguentem.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Residência Artística


Jaguaribe, Ilha de Itamaracá.
Minha Residência começa com meus pés fincados nessas areias. Nesta praia está o Ponto de Cultura de Lia de Itamaracá e o Centro Cultural Estrela de Lia, uma arena a beira mar coberta de palha de folha de coqueiro, onde vêem dançar os moradores da Ilha.Todo sábado é Lia quem puxa a ciranda.

A programação do espaço começa as 9h da noite (após a novela das 8h) e poucos chegam antes da banda começar a tocar. A convidada da noite é Luciene Loyce que faz uma seguência de afoxés, sambas, côcos... Até que Lia é anunciada e o centro da arena é ocupado rapidamente por rodas de gente, jovens, adultos, velhos e crianças. Num instante todos de mãos e braços dados começam a dançar, após o toque de chamada da percussão as crianças se deliciam cantando com Lia:

"Eu estava na beira da praia ouvindo as pancadas das ondas do mar..."

Lia com sua forte presença transforma-se em uma entidade, aos nossos olhos se parece com a própria yemanjá, brilho e força tomam conta da arena. Ela estabelece uma comunicação direta com quem brinca a ciranda, não deixa escapar o que vê, refere-se as pessoas, surpreende seus músicos, seus olhos e sua voz percorrem o espaço.

Uma figura se sobresai no centro das rodas formadas, é um caboclo. Meio indio, meio louco, ele dança e gira soltando seus gritos de festa ou serão os seus gritos de guerra? No centro, sozinho, brincando e provocando os cirandeiros o caboclo se torna um contraponto. Lia não ignora a sua presença e reage a sua brincadeira provocativa, enquanto ele, a venera como uma rainha.

Durante cerca de três horas as pessoas giram. A ciranda é de paz e é de guerra.