segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ajoelhando

Toda noite, quando a roda de ciranda lá vai terminando, Lia de Itamaracá puxa um côco.

Ajoelha, ajoelha!
Ajoelha no colo de Iaiá!

Ajoelha, minha gente, ajoelha!
Ajoelha no colo de Iaiá!

Assim ela vai citando o nome de cada um que estive com ela naquela noite. Músicos, o pessoal que trabalha no bar, seus amigos, parentes e ainda aqueles que se destacaram em algum momento durante a festa e ganharam dela um apelido. Já ouvi vários: pirráia, caboclo, neguinho...

Neste último sábado ouvi pela primeira vez ela cantar meu nome.Jamais esperei ouvir meu nome entre as letras da despedida, foi uma surpresa, tanto que me emocionei.

Ouvir meu nome cantado por Lia é de certa maneira me ver inserida no universo dela. Se engana quem acha que é simples. Lia é extremamente reservada, fala pouco, é quieta. Mas quando se à vontade conta suas estórias, cantarola suas canções, solta suas ironias e sorri.

Essa grande mulher é autêntica. Canta o que gosta e como gosta, não perde tempo em aprender o que não lhe diz respeito e nem aquilo que não lhe toca.

Um dia desses lhe mostrei um samba.Perguntei sobre o compositor e ela não o conhecia. Lhe expliquei quem era o moço e pedi para que ouvisse a canção e ela silenciosamente atenta, ouviu no meu mp3, O mundo é um moinho de Cartola.

No final chamou Dulce e Biu e comentou: "Ouvi, parece um balada, um bolero..."

Dulce e Biu sorriam dividindo o fone.
"É aquele, como é mesmo o nome? Cartola!" dizia Dulce. "Eu conheço! É linda..." suspirava Biu.

Eu perguntei a ela se cantaria essa música no espetáculo que estamos ensaiando.

Ela docemente me respondeu:
"Não...isso aí não entra na minha cabeça, não. É arrastado demais!"

Eu insisti: Lia, essa música com a sua voz ficaria ainda mais bonita!

Ela: Vocês me botam em cada emboscada... Só por causa da minha voz?

Pois então.
Ajoelha Cinthia, ajoelha!
Ajoelha no colo de Iaiá!

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