segunda-feira, 2 de março de 2009

O Reino da Rabeca Encantada

Estive fora uns dias, vou lhes contar como foi.

Lá estava eu andando pelas ruas do Recife antigo entretida com os belos enfeites do carnaval quando, ao entrar na rua da Moeda, vi passar correndo por mim um Caboclo de Lança. Era uma criatura fascinate, de longe se ouvia o tintilar de seu surão e tanta lantejoula ofuscava meus olhos! Fiquei completamente hipnotizada tamanho era o borão de cores. O segui. O Caboclo ia com sua lança quebrando as esquinas e atravessando becos até que entrou em um ônibus que foi parar em Tabajara, uma terra Olindense, aparentemente, não muito distante.

O Caboclo desceu do ônibus e eu continuei a segui-lo até que chegamos em um Reino chamado Casa da Rabeca. Nesse Reino todo ano acontece um encontro de Maracatus e nesse encontro pode-se ver todos os Caboclos de lança do mundo! É assim que começa o carnaval. Vem chegando noite e dia Maracatus de Baque Solto, Maracatus de Baque Virado, Reis, Rainhas, Porta bandeiras, Vassalos, Damas do passo, Baianas e os Caboclos de Pena (que não usam lança e sim machado) também chamados Tuxau ou Arreimá. Todos vêem de outras tantas terras também, aparentemente, não muito distantes... Quando os Maracatus de todo o mundo se encontravam o som vindo do Reino parece o som que vem do trovão!

De repente o Caboclo que estava parado de frente para a arena onde se fazia a chegada de todos os Maracatus, saiu correndo de novo, agora em direção a um lugar que mais tarde eu fui saber que era o castelo da Rainha. Lá, no castelo da Rainha, eram costuradas todas as roupas do Maracatu. Cada Caboclo bordava a sua gola e cada Baiana bordava o seu vestido, cada Dama costurava suas pedras... O Caboclo que eu perceguia estava com sua gola meio solta e precisava de uns ajustes. A melhor costureira do mundo, vivia alí, naquela casa. O Caboclo entrou numa fila imensa que sumia por detrás das montanhas... Nunca vi tanto ajuste pra fazer!!! Nesse meio tempo pude observar com que facilidade e rapidez todas aquelas pessoas, homens e mulheres, bordavam suas roupas. Eram enormes bordados em harmonia coloridos.

Assim que o Caboclo teve sua gola ajustada saiu novamente na correria de sempre e eu, já estava me virando para segui-lo quando fui pega de surpresa no portão. Lá estava ela, a própria, a Rainha do Reino da Casa da Rabeca!!! Ela era tão bonita e tão jovem que mal pude acreditar!

A Rainha me olhou meio de eslaio e depois me examinou de cima em baixo. Aí, com firmeza olhou nos meus olhos e me perguntou:
_Quer brincar comigo o carnaval?

Eu logo fiz com a cabeça que sim (jamais poderia decepcioná-la!). Então ela voltou-se para a melhor costureira do mundo e disse:
_Minha mãe, temos mais uma Baiana, tu tens uma roupa para ela?

Pronto.
Foi assim que durante o carnaval desse ano eu me tornei uma Baiana do Maracatu Piaba de Ouro, brincadeira preferida da Rainha Laíse.

A Corte todos os dias acordava cedo, tomava seu café na sede do Reino e seguia, divivida em três ônibus e um caminhão, para outras terras. Íamos apresentar aos povos de todos os Reinos nossa majestade! O grande cortejo ocupava as ruas e parava os blocos do carnaval, todos ficavam deslumbrados, a gente toda ia para as suas janelas para aplaudir o cortejo que passava, as pessoas saíam das calçadas dando passagem, as crianças corriam, as moças sorriam, as senhoras choravam.

Estive fora uns dias. Eu estive nas terras de uma jovem Rainha, lá descobri o seu reinado de carnaval e experimentei uma brincadeira diferente.

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