sábado, 31 de janeiro de 2009

Seu Luiz e Eu


Seu Luíz Paixão é mestre rabequeiro. Ele vive a tocar nos bancos do Cavalo Marinho, brincadeira popular de Pernambuco. As Sambadas por aqui acontecem no mês de dezembro, mas o Cavalo Marinho pode ser brincado o ano inteiro. Seu Luíz também é um Artista Residente e estará ocupando comigo o Centro Cultural de Lia de Itamaracá.

Seu Luíz é um músico popular e como tantos outros desse país se vê dialogando com o turbilhão de informações que vêem de todos os cantos e chegam até ele sem muita ordem de prioridade e relevância. Ele atento, sábio e sereno parece surfar com sua comprida bermuda vermelha pelo mar contemporâneo das informações: ele curte as ondas, respira a maresia, às vezes enfrenta tempestades e por aqui até encara os tubarões!

Salve seu Luíz! É por paixão que seus dedos (me disseram que ele toca apenas com três, eu ainda não vi...) se desenrolam nas cordas de sua rabeca sempre que o silêncio incomoda e até que as pernas do Mateus e do Bastião se aguentem.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Residência Artística


Jaguaribe, Ilha de Itamaracá.
Minha Residência começa com meus pés fincados nessas areias. Nesta praia está o Ponto de Cultura de Lia de Itamaracá e o Centro Cultural Estrela de Lia, uma arena a beira mar coberta de palha de folha de coqueiro, onde vêem dançar os moradores da Ilha.Todo sábado é Lia quem puxa a ciranda.

A programação do espaço começa as 9h da noite (após a novela das 8h) e poucos chegam antes da banda começar a tocar. A convidada da noite é Luciene Loyce que faz uma seguência de afoxés, sambas, côcos... Até que Lia é anunciada e o centro da arena é ocupado rapidamente por rodas de gente, jovens, adultos, velhos e crianças. Num instante todos de mãos e braços dados começam a dançar, após o toque de chamada da percussão as crianças se deliciam cantando com Lia:

"Eu estava na beira da praia ouvindo as pancadas das ondas do mar..."

Lia com sua forte presença transforma-se em uma entidade, aos nossos olhos se parece com a própria yemanjá, brilho e força tomam conta da arena. Ela estabelece uma comunicação direta com quem brinca a ciranda, não deixa escapar o que vê, refere-se as pessoas, surpreende seus músicos, seus olhos e sua voz percorrem o espaço.

Uma figura se sobresai no centro das rodas formadas, é um caboclo. Meio indio, meio louco, ele dança e gira soltando seus gritos de festa ou serão os seus gritos de guerra? No centro, sozinho, brincando e provocando os cirandeiros o caboclo se torna um contraponto. Lia não ignora a sua presença e reage a sua brincadeira provocativa, enquanto ele, a venera como uma rainha.

Durante cerca de três horas as pessoas giram. A ciranda é de paz e é de guerra.