terça-feira, 29 de dezembro de 2009

de volta a Obra!!!


Estive um tanto ausente.
Depois que cheguei ao fim da residência em Itamaracá segui adiante com minhas andanças. São Paulo, Belo Horizonte, Rio e agora Barcelona.

Estive três meses em BH ( também em residência) desenvolvendo um projeto de arte e tecnologia junto ao Marginália+Lab, laboratório de criação colaborativa em arte e tencologia. Neste período, me dideiquei a criar performances que tivessem como "suporte" o corpo e como extensão desse corpo a tecnologia. Um projeto bem diferente do que foi Obra de Terreiro, porém, para mim, não menos interessante...

Enquanto residia em BH reencontrei na capital mineira, a cultura popular dos Reisados: moçambique, congada, vilão... As canções desse povo embalou minha infância agora voltou a estar diante de meus olhos com suas cores e a música alta.
Numa ocasião fui a uma festa de chegada de Reisado na cidade de Contagem, grande BH. Logo quando cheguei, na parede dos banheiros públicos construídos para a festa dos Arturos, estava escrito:

Oh velho Deus dos homens! Deixa-me ser tambor, só tambor, só tambor...


Salve os Arturos!!!
Os Arturos são uma comunidade quilombola que resiste na cidade de Contagem. Fazem, todos os anos, uma bela festa de Reisado lá mesmo pelas ruazinhas do bairro onde recebem, também, grupos vindos de outras cidades e arredores.

Pois bem, dessas minhas andanças, surgiu uma reflexão sobre o desequilíbrio do corpo na cultura popular (reflexão essa, discutida por pesquisadores brasileiros: músicos, bailarinos e teóricos). Depois de dançar passando a sola dos meus pés no chão, tirando som do atrito entre o chão e o meu corpo, foram tantas as eminências de quedas... Aprender a cair foi aprender a dançar. Logo, impossível não pensar sobre a importância do equilíbrio e do desequilíbrio nessas danças.

Diferente da dança clássica, os bailarinos da cultura popular estabelecem uma relação muita forte com a terra, estão conectados com o chão onde pisam. Talvez porque a maioria dessas festas são a celebração da Terra, são ritos de fertilidade e espiritualidade e a matriz da crença dessa gente é a África onde os deuses habitam a terra e não os céus.

No momento estou criando uma oficina de desequilíbrio. Ando atenta ao ato de desequilibrar-se.