sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ciranda há! beira mar...

Praia de jaguaribe, Itamaracá. Sábado, 07 de fevereiro de 2009

Neste dia a ciranda começou mais cedo, havia uma filmagem no centro cultural, lá estava uma equipe com câmera, grua, microfone e tudo mais. O filme era sobre os Patrimônios Vivos de Pernambuco e Lia no final do ano passado virou um deles.

Um patrimônio vivo recebe do governo do Estado uma mesada mensal, em torno de R$ 700,00. Isto porque, os Patrimônios Vivos (apesar de desenvolverem intensamente suas atividades como artistas, artesãos ou mestres), não possuem uma renda suficiente para o seu próprio sustento.

Até então, Lia foi merendeira da escola estadual em que trabalhou a vida inteira. Com o salário de merendeira levou sua vida de rainha da ciranda, no entanto, a quantia que ganha como cantora não chega a ser considerável, embora viaje o ano inteiro com sua banda, incluve fazendo shows fora do país. Pois bem, lá estavam filmando Lia, lá estavam construindo para ela um "Universo de Patrimônio Vivo" que não era exatamente o universo dela...

Lia pra quem não sabe não pertence a nenhum Terreiro de Candomblé e a nenhuma Nação de Matriz Africana, seja ela do Maracatu ou do Afoxé, não é essa a sua crença. Ela respeita, canta e cita Yemanjá sempre que se lembra dela, mas do Terreiro ela não é e nem precisa ser.

Sua beleza e imponência africana é de arrepiar e encantar qualquer um e isso basta. Acontrece com o público, com seus músicos, com quem quer que se atente, nem que seja por alguns instantes, a sua voz, a sua forte presença. Mas lá estava Lia, a pedido da equipe do filme, batendo a cabeça pro Tambor de um de seus músicos, o Baba Claudinho do Afoxé Alafin Oyé, na presença de uma Mãe de Santo e de uma baiana que assistiam sentadas a roda de ciranda.

Gentilmente eles cederam ao pedido, gentilmente colaboraram para a construção de um "Universo de Patrimônio Vivo" que mais adiante irá se contradizer com suas próprias histórias de vida.

Há de ser com delicadeza que cheguemos nos espaços que não conhecemos, e então, nossas ficções, nossas idéias dele, terão de ficar cada uma em seu devido lugar para dar espaço a inevitável realidade que sem dúvida será mais bela e infinitamente mais interessante ( e menos obvia) que a própria idéia dela. Lia é o que é antes de virar Patrimômio e não é á tôa, basta abrir os olhos e ver! Gentileza sempre haverá!

Axé!

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