terça-feira, 31 de março de 2009

Seu Luiz e Eu mais uma vez.

É muito bom poder dividir o espaço do Ponto de cultura de Lia com Seu Luíz Paixão. É um prazer ter sempre sua alegria e sua cumplicidade.
Acho engraçado quando ouço ele dizer um tanto bravo:


"Daqui não sei ninguém sem aprender!"

Mas compreendo sua exigência. Estamos depositando muito de nosso tempo e de nossa energia nesses projetos. Eu estou a meses por aqui em funsão disso e ele mobiliza muita gente entre músicos, galantes, mestres pra levá-los a cada sábado ao encontro dos alunos.

Esses dias paramos os dois pra conversar num cantinho e meio que cochichando trocamos algumas confidências sobre a evolução das turmas. Ele se mostrava preocupado e é certo, nós dois dividimos a mesma preocupação: nossas turmas são completamente heterogêneas.

Durante as inscrições, exigimos uma ou outra condição ou limite de idade, mas logo vimos que não adiantaria muito, por conta da falta de constancia de presença de alunos e da maneira como cada um apresenta seu interesse.

As diferenças são tantas e o que leva cada um a estar ali conosco são motivos tão distintos...

Não é fácil!!! a troca diária tem sido intensa e rica, sem dúvidas, nunca havia experimentado nada igual, mas os desafios são muitos.

Eu e Seu Luiz vamos fazer de tudo para que de fato, ninguém saia de lá sem aprender, mas isso também depende do interesse de cada um dos alunos.

4º encontro ainda

Bíu
uma das filhas de Baracho

Neste encontro demos início aos estudos dos gestos, os gestos que nos levam a dança.Trabalhamos as qualidades dos movimentos: velocidade, parágem, peso (transferência, inclusive), intensidade, fluxo, forma... Estamos quase lá!

4º Encontro

Dona Maria Madalena
mais conhecida como Lia de Itamaracá


quinta-feira, 26 de março de 2009

Obra de Terreiro no Pernambuco Nação Cultural

http://www.nacaocultural.pe.gov.br/obradeterreiro

Pernambuco Nação cultural é uma rede de comunicação e divulgação da cultura pernambucana na internet idealizada pela Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) e pelo pelo Instituto InterCidadania.

O sítio tem como objetivo "arquivar, armazenar e exibir qualquer conteúdo - vídeo, áudio, imagem ou texto - que tenha relação com a população e o consumo artístico local."

Pois bem, lá estamos e estaremos relatando, divulgando, inventando e reinventando as ações e as impressões do projeto Obra de Terreiro.


ainda no Terceiro Encontro

Caminhar, saltar, rolar e girar...
Espaço, corpo, relação, ritmo, gestual >> construção da dança
Todos podemos dançar!

Terceiro Encontro

Bastão
Um jogo que trabalha o gesto de olhar no olho, a percepção, a transferência e a divisão do peso no corpo, exige atenção, criatividade...

terça-feira, 24 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

O Primeiro Encontro-Obra de Terreiro

Biu e Dulce

No primeiro sábado de oficina vou a Itamaracá pela praia do Sossego e para chegar ao Ponto de Cultura de Lia ,em jaguaribe (onde acontecem as oficinas), preciso atravessar um rio num barco. A maré estava baixa, mas este era o caminho mais curto e seguro.

Assim que cheguei no Centro Cultural de Estrela de Lia, lá estavam, há minha espera filhas e netas de Baracho, ao todo eram 9 entre meninas, moças e mulheres. Baracho foi um compositor de cirandas e é dele a maioria das letras e melodias que já ouvimos por aí. Ele se foi há 20 anos e deixou um legado de canções que suas filhas, netas e bisnetas trazem na ponta da língua.

Suas filhas Dulce e Biu cantam com Lia, suas vozes são inconfundíveis!!!


Pois bem, iniciamos a oficina e eis que Lia de Itamaracá se junta a nós. Foi uma bela surpresa! Bem pertinho da arena central, ela colocou uma cadeira para se sentar (seus joelhos não lhe permitem abusar...) e a todo momento nos surprendia com seus comentários engraçados e com suas observações mais que irônicas.

Lia, Dulce e Biu, juntas são uma diversão! Falam -me de toda a juventude, das rodas de ciranda, de tempos atrás e também do futuro.

É um prazer tê-las comigo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Véspera nº2

Às vésperas do inicio de meus trabalhos com o Ponto de Cultura de Lia, em Itamaracá, tenho comigo uma pergunta que me assola, dentre tantas outras:
____________________________ quem irá ao meu encontro?
Parto daqui rumo a algum horizonte ao qual estarei sempre aberta a aceitar, encarrar e respeitar.


______________ À porta quem virá bater?

______________ Em uma porta aberta se entra
______________ Uma porta fechada um antro

______________ O mundo bate do outro lado de minha porta.

___________________________________Pierre Albert-Birot,
__________________________Lês amusements naturels, p 217.

Véspera

foto: br 116

Vem chegando fevereiro e o que se sonha é um dia interio no seu lar.
Poder cantar, poder calar, poder querer e merecer o doce toque do seu mar...


Recife de ilusão, Pernambuco coração.

Recife de ilusão, Pernambuco coração.


Vens de lá eu sei, fevereiro vai chegar.
Fevereiro vai chegar...
Chora a Liberdade ao ter tua lembrança, ao se cansar de te esperar,
Sorri a Boa Viagem ao ver feliz a tua imagem ao te ver chegar.

Tua tristeza vai embora, com teu choro o meu pesar.
Tua tristeza vai embora e com teu choro o meu pesar.


Tua espera é meu lamento: a felicidade é teu lar!
A felicidade é teu lar...


Mas se já vais embora,
se já passou da hora de te encontrar,
viverás feliz, longe daqui em outro lugar.

E meu fevereiro é teu dezembro mesmo sendo em janeiro, véspera.


Às vezes aqui , mas sempre lá.

Às vezes aqui, mas sempre lá...


Mas se já vais embora,
se já passou da hora de te encontrar,
viverás feliz, longe daqui, em outro lugar.


O meu avô (homem sábio) me disse certa vez: "Todo homem precisa de uma ilusão pra viver." Eu nunca pude me esquecer disso.

O que temos acima é uma canção, Véspera é seu nome e a letra foi escrita por mim a algum tempo. Eu tinha lá os meus 16 anos e sofria com a partida de uma grande amiga que voltava ansiosa a sua terra: Recife. Ela havia passado uma temporada fora de sua terra natal por conta de uma crise financeira que abalou sua família e nesta ocasião nos conhecemos, estávamos as duas recém chegadas numa escola na cidade de Resende-RJ.

Nessa época eu ouvia Chico Science nas rádios e sua música me comovia a ponto de me causar sensações e desejos profundos de mudança, me apontando o movimento, proporcionando um impulso a mais contra minha sensação de estagnação.

Naquela época, há uns 15 anos atrás, eu vivia a inércia de uma comunidade rural abalada pelo agronegócio. Eu não estava no campo e também não estava na cidade, vivia num lugar entre um local e outro, à beira de uma BR, numa paisagem verde rasgada por uma rodovia, a mais movimentada de todo o país a BR 116, que liga Rio a São Paulo, que leva até certo ponto Rio de Janeiro a Minas Gerais (Estado onde nasci), mas a mim, me deixava exatamente onde eu estava, não me ligava e nem me levava a lugar algum.

Eu acredito que tenha sido aí que nasceu o meu encanto por esse lugar que minha amiga Ivana amava tanto. Um lugar capaz de produzir tanta poética deve ser um lugar de magia, ou será apenas o lugar que chamamos de nosso? Bem, para quem não tinha, naquele momento, lugar algum como referência, para quem, dia e noite via a sua frente, tantos carros passarem rapidamente de um ponto ao outro indo sabe-se lá para onde, neste caso, Recife poderia ser, de fato, um recife de ilusões ...

Mas não é.

terça-feira, 3 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

O Caboclo de Lança

O Reino da Rabeca Encantada

Estive fora uns dias, vou lhes contar como foi.

Lá estava eu andando pelas ruas do Recife antigo entretida com os belos enfeites do carnaval quando, ao entrar na rua da Moeda, vi passar correndo por mim um Caboclo de Lança. Era uma criatura fascinate, de longe se ouvia o tintilar de seu surão e tanta lantejoula ofuscava meus olhos! Fiquei completamente hipnotizada tamanho era o borão de cores. O segui. O Caboclo ia com sua lança quebrando as esquinas e atravessando becos até que entrou em um ônibus que foi parar em Tabajara, uma terra Olindense, aparentemente, não muito distante.

O Caboclo desceu do ônibus e eu continuei a segui-lo até que chegamos em um Reino chamado Casa da Rabeca. Nesse Reino todo ano acontece um encontro de Maracatus e nesse encontro pode-se ver todos os Caboclos de lança do mundo! É assim que começa o carnaval. Vem chegando noite e dia Maracatus de Baque Solto, Maracatus de Baque Virado, Reis, Rainhas, Porta bandeiras, Vassalos, Damas do passo, Baianas e os Caboclos de Pena (que não usam lança e sim machado) também chamados Tuxau ou Arreimá. Todos vêem de outras tantas terras também, aparentemente, não muito distantes... Quando os Maracatus de todo o mundo se encontravam o som vindo do Reino parece o som que vem do trovão!

De repente o Caboclo que estava parado de frente para a arena onde se fazia a chegada de todos os Maracatus, saiu correndo de novo, agora em direção a um lugar que mais tarde eu fui saber que era o castelo da Rainha. Lá, no castelo da Rainha, eram costuradas todas as roupas do Maracatu. Cada Caboclo bordava a sua gola e cada Baiana bordava o seu vestido, cada Dama costurava suas pedras... O Caboclo que eu perceguia estava com sua gola meio solta e precisava de uns ajustes. A melhor costureira do mundo, vivia alí, naquela casa. O Caboclo entrou numa fila imensa que sumia por detrás das montanhas... Nunca vi tanto ajuste pra fazer!!! Nesse meio tempo pude observar com que facilidade e rapidez todas aquelas pessoas, homens e mulheres, bordavam suas roupas. Eram enormes bordados em harmonia coloridos.

Assim que o Caboclo teve sua gola ajustada saiu novamente na correria de sempre e eu, já estava me virando para segui-lo quando fui pega de surpresa no portão. Lá estava ela, a própria, a Rainha do Reino da Casa da Rabeca!!! Ela era tão bonita e tão jovem que mal pude acreditar!

A Rainha me olhou meio de eslaio e depois me examinou de cima em baixo. Aí, com firmeza olhou nos meus olhos e me perguntou:
_Quer brincar comigo o carnaval?

Eu logo fiz com a cabeça que sim (jamais poderia decepcioná-la!). Então ela voltou-se para a melhor costureira do mundo e disse:
_Minha mãe, temos mais uma Baiana, tu tens uma roupa para ela?

Pronto.
Foi assim que durante o carnaval desse ano eu me tornei uma Baiana do Maracatu Piaba de Ouro, brincadeira preferida da Rainha Laíse.

A Corte todos os dias acordava cedo, tomava seu café na sede do Reino e seguia, divivida em três ônibus e um caminhão, para outras terras. Íamos apresentar aos povos de todos os Reinos nossa majestade! O grande cortejo ocupava as ruas e parava os blocos do carnaval, todos ficavam deslumbrados, a gente toda ia para as suas janelas para aplaudir o cortejo que passava, as pessoas saíam das calçadas dando passagem, as crianças corriam, as moças sorriam, as senhoras choravam.

Estive fora uns dias. Eu estive nas terras de uma jovem Rainha, lá descobri o seu reinado de carnaval e experimentei uma brincadeira diferente.